ducha
sempre fui um cara de rituais.
assim que entro no banheiro, penduro a toalha de forma milimétrica. depois, as roupas limpas que insisto em trazer mesmo morando sozinho. ligo a caixinha de som e faço minha gambiarra colocando uma tampinha amarela em cima da lanterna do celular, criando aquela luz indireta que amo.
inspiro lentamente o ar desse pequeno ambiente que agora controlo e, como num instinto animalesco, meu cérebro sabe que é a hora.
não é só água que cai do chuveiro quando giro a torneira. caem pensamentos. possibilidades. memórias. ideias com e sem ideais. frases com uma única palavra. frases que poderiam compor um conto.
mas sou somente um espectador.
da mesma forma que a água escorre pelo meu corpo, todo o resto também escorre. não preciso julgar nada, não preciso interagir, não preciso me importar.
somente sentir.
sentir que me destruo. e que renasço logo em seguida.
enquanto observo os seus últimos fios de cabelo descendo pelo ralo.
eu sempre fui um cara de rituais…