ducha

Victor Brayner
1 min readMay 10, 2023

sempre fui um cara de rituais.

assim que entro no banheiro, penduro a toalha de forma milimétrica. depois, as roupas limpas que insisto em trazer mesmo morando sozinho. ligo a caixinha de som e faço minha gambiarra colocando uma tampinha amarela em cima da lanterna do celular, criando aquela luz indireta que amo.

inspiro lentamente o ar desse pequeno ambiente que agora controlo e, como num instinto animalesco, meu cérebro sabe que é a hora.

não é só água que cai do chuveiro quando giro a torneira. caem pensamentos. possibilidades. memórias. ideias com e sem ideais. frases com uma única palavra. frases que poderiam compor um conto.

mas sou somente um espectador.

da mesma forma que a água escorre pelo meu corpo, todo o resto também escorre. não preciso julgar nada, não preciso interagir, não preciso me importar.

somente sentir.

sentir que me destruo. e que renasço logo em seguida.

enquanto observo os seus últimos fios de cabelo descendo pelo ralo.

eu sempre fui um cara de rituais…

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